segunda-feira, 17 de agosto de 2009

O MOVIMENTO DIALÉTICO E OS NÁUFRAGOS DO DESESPERO

MOVIMENTO I – O DESESPERO DAS QUESTÕES INDECIDÍVEIS – AS APORIAS:


Quem falou de liberdade?
Alguém falou em liberdade?
O que é liberdade?


Seria sentir-se para além da opressão?
Seria desobrigar-se do mundo?
Seria estar livre da contingência?


Quando eu diria: “estou livre”?
Quando, liberta de um peso, um suspiro de alívio perpassasse a minha alma?

Quando,em um instante de introspecção, um suspiro de paz se fizesse presente?

Quando vejo minha gata dormindo, tenho a sensação de que ela é livre...
E que em seu sono, pode habitar qualquer mundo e ainda assim, estar sempre em paz...


Há liberdade na morte?
Há paz na morte?
Haverá uma relação entre liberdade e paz?

Pode haver um mundo regido por leis necessárias e simultaneamente, pode haver liberdade nesse mundo?

Ah, meu Deus!

Por que não bato com a cabeça na parede
E acabo de uma vez com isso?


MOVIMENTO II – A ORAÇÃO DO NÁUFRAGO:

Não me abandone.

Estenda sua mão para que eu não desista.

Não quero que meu fim seja assim: no desamparo absoluto das questões mais importantes.

Seja lá quem você for, preciso de sua mão diáfana, para não estar –logo mais – soterrada sob o mais absoluto desespero...


MOVIMENTO III – AS TENTATIVAS DE RESGATE:


TESE 1:

Houve uma escolha antes do Tempo. Você contemplou as verdades eternas e escolheu um destino a cumprir que se submeterá, no plano da contingência, a leis necessárias.

Objeção: silêncio.

TESE 2:

Você recupera sua liberdade na medida em que conhece as razões. Ao se libertar da servidão em relação à exterioridade, você interioriza as causas de seu existir e passa a desejar aquilo que não se submete à contingência. A sua mente em união com a Natureza Naturante abre o caminho para o retorno ao seio do incondicionado.

Objeção: silêncio

TESE 3:

Seja qual for o desdobramento que a História imponha à humanidade, todas as etapas servem à manifestação do Espírito Objetivo ou do Absoluto no mundo. O Espírito se manifesta na própria História.

Objeção: silêncio.


SÍNTESE DIALÉTICA:

Ao nos submetermos às leis necessárias no mundo da contingência, estamos paradoxalmente retornando ao incondicionado.

Reconhecer que somos parte de um projeto que nos transcende enquanto indivíduos, confere sentido à orquestra.

Enquanto seres que transitam entre as mutações da contingência, somos seres que cumprem um papel na cena cósmica - não sujeita a qualquer determinação.