sexta-feira, 4 de junho de 2010

ANANDA - ÊXTASE, ALEGRIA

Despertei estranhamente feliz – esse sentimento que nos visita de quando em quando de surpresa.

Silêncio absoluto na casa.

Silêncio na praça.

Silêncio na urbe.

Silêncio no mundo.

E como a gente sempre desconfia quando tudo parece perfeito, por um átimo de segundo suspeitei de tanta paz: que estará acontecendo?

Apurei o ouvido em busca de ruídos dissimulados. Mas nada: havia de fato no ar uma tranqüilidade quase tangível, que parecia ironizar minha desconfiança.

Notei que o proprietário da casa, que eu havia alugado para as férias, havia esquecido o dicionário de sânscrito aberto sobre a mesa de trabalho, na noite anterior à minha chegada.

Era um homem excêntrico, professor de filosofia oriental e estudioso de línguas antigas. Como estava precisando de dinheiro, alugou a casa onde morava e se instalou na edícula ao lado, pelo período do contrato.

O dicionário fora esquecido como estava: aberto na letra A, com sublinhas na palavra ANANDA, que despertou minha curiosidade.

ANANDA - sentimento de êxtase, alegria – era a definição do dicionário.

Pensei que, se algum dia tivesse uma filha, seria esse o nome dela.

Abri a janela: uma montanha verdejante me saudou e um raiozinho de sol venho brincar na minha cara.

Como se fosse um mensageiro, um beija-flor parou na minha frente e me ofereceu suas boas-vindas.

Afastou-se, deixando-me de presente a toada de um mistério: essa música silenciosa que permeia a contingência e remete ao sentido de tudo...