domingo, 12 de abril de 2009

COM LICENÇA POÉTICA ( A CASA É SUA, ADÉLIA PRADO!)

"Quando nasci um anjo esbelto,
desses que tocam trombeta, anunciou:
vai carregar bandeira.
Cargo muito pesado para mulher,
esta espécie ainda envergonhada.
Aceito os subterfúgios que me cabem,
sem precisar mentir.
Não sou tão feia que não possa casar,
acho o Rio de Janeiro uma beleza e,
ora sim, ora não, creio em parto sem dor.
Mas o que sinto escrevo. Cumpro a sina.
Inauguro linhagens, fundo reinos
- dor não é amargura.
Minha tristeza não tem pedigree,
já a minha vontade de alegria,
sua raiz vai ao meu mil avô.
Vai ser coxo na vida é maldição para homem.
Mulher é desdobrável. Eu sou."
( Retirado do Livro Bagagem - Adélia Prado)

OUROBOROS

Vai uma folha ao vento...

(Haveria uma folha ao vento, não houvesse um par de olhos para testemunhá-lo?)

Quem enunciaria: “vai uma folha ao vento?”

Uma folha ao vento seria, assim, apenas uma ocorrência silenciosa...

Sem palavras...

Um mistério do mundo, ocultando toda a sua poesia...

(Mas... haveria poesia nisso, não houvesse um par de olhos para significá-lo? )