Assim é: meu ser se desmancha e se derrama sobre a superfície do mundo, como se eu houvera atingido o estado líquido da essência possível. Não tenho mais unidade enquanto um eu; esse pronome do caso reto, aliás, já não faz qualquer sentido... No estado líquido é impossível ter contornos definidos, algo que me delimite em relação àquilo que seria o “de fora”. Em estado líquido eu sou o espaço e as coisas onde estou. O mundo me confere forma; as coisas são em mim. E eu assumo a condição de uma consciência oceânica: densa, profunda, poderosa e controlada. Pura força oculta. Movimento que se dá em tudo de forma não testemunhável. O que faço agora é uma tarefa quase sem sentido: tentar dizer o indizível - aquilo que já está para além das palavras, posto que inútil significar um mundo que já não tem limites...