segunda-feira, 29 de outubro de 2007

RESENHA - "A DUPLA VIDA DE VERONIQUE" - KIESLOWSKI

Em um filme de extrema poesia e sensibilidade, Kieslowski questiona, através de metáforas, os mistérios que envolvem ( e ocultam ) o sentido da vida.


Mesmo supondo que o cineasta jamais tenha lido qualquer coisa sobre os universos paralelos da Teoria das Cordas, a possibilidade da existência de um Outro-Especular, com o qual nos defrontássemos, sem aviso e por acaso, nos arrancaria da confortável previsibilidade do que chamamos real, e nos colocaria de volta a pergunta recalcada: o que é a vida, o que comanda o nosso destino ?


Não por acaso, a personagem central se sente atraída por um escritor de histórias infantis e titereiro de teatro de bonecos. Esse - que cria histórias de ficção e dá vida a seus personagens inanimados – encarna a metáfora desse processo subliminar que é viver, quando marca encontros através de mensagens cifradas, sinais, códigos aparentemente sem qualquer significado – e que, portanto, exigem uma percepção mais acurada até para que a eles se dê a devida importância ...

É interessante observar que o autor de histórias – e, portanto, em sentido figurado, de vidas paralelas – não parece ter qualquer conhecimento privilegiado sobre as razões de seu processo de criação, como se a vida se escrevesse a si mesma, sem preocupação em perguntar os porquês, apenas se desvelando a quem busca saber...

Enfim, Kieslowski nos oferece um filme cheio de perguntas, cheio de nuances, com múltiplas possibilidades de abordagem, resultando em uma obra que é para ser degustada em várias sessões...