"O efeito Doppler me fez recordar as raras ocasiões em que ouvi meu pai tocar acordeão, um velho Scandalli que fazia parte da família havia muito tempo. Sentado na beira de sua cama, ele começava a tocar, seu corpo e mente entrelaçados com o instrumento, a música jorrando do fole vermelho, numa dança rítmica de expansão e contração. Em expansão, os tons tornavam-se mais graves; em contração, os tons tornavam-se mais agudos. Seus dedos voavam sobre o teclado, criando uma música ao mesmo tempo nova e velha, melodias cheias de mágica. A expansão e contração do fole revelavam, ainda que por apenas alguns instantes, os segredos do Universo, a dança de Shiva e a harmonia das esferas, o que pode e o que não pode ser conhecido, o brilho nos olhos de meu pai. Existem tantas maneiras de compreender o mundo ..."
( A dança do Universo, Companhia das Letras, pag. 330/331)