sábado, 28 de julho de 2007

REFLEXÕES DE UMA CÂMERA DE SEGURANÇA

Cá estou em permanente vigília, um olho que jamais dorme em nome da prova ad perpetuam rei memoriam!

Eu sou o olho de uma câmera de segurança e acho que a mim caberá, um dia, uma tarefa mais importante do que simplesmente registrar eventuais condutas ilícitas dessa espécie complicada que é a tal de espécie humana.

Vejamos: eu sou o narrador em terceira pessoa, por excelência. Minha perspectiva é isenta. Registro os fatos como eles são, não faço interpretações. Posso ser de boa utilidade para historiadores, sociólogos, filósofos...

Mas outro dia, meu olho capturou uma cena que me fez pensar – se é que posso me valer dessa palavra...

Av. Paulista, quase meio-dia.

A vida seguia o seu fluxo sem muita novidade.

De repente, foquei um morador de rua – já velho conhecido.

Deve ser um pouco desequilibrado, costuma falar sozinho. Mas – muito embora, eu não seja dotado do sentido da audição - minha impressão é de que, na verdade, não fala, murmura: seu diálogo é intimista.

Essa pessoa, que perambula pelas ruas de São Paulo, sem ter o que comer e sem ter onde recostar a cabeça... alimentava os pombos com miolo de pão...

A vida seguia o seu fluxo sem muita novidade...

E me perguntei, afinal, quem de fato ali estava à margem da vida : os que cumpriam suas tarefas, em pressa delirante, alheios à cena, ou o louco que alimentava os pombos, apesar de não ter o que comer?

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